sábado, janeiro 29, 2011

eu aqui...: Crónicas sobre o futuro

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eu aqui...: A vingança da Barata

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É esta a crise em Portugal – Segunda parte

A divida de Portugal que era em 1996 de 8,3 mil milhões de euros atingiu 161 mil milhões em 2008 e a despesa pública de 15,7% do PIB em 1960 é de 49,8% do PIB em 2009. Neste tempo as empresas do regime engordaram a olhos vistos, os conselhos de administração cresceram, cinco, dez, quinze ilustres doutores pagos na casa dos milhões para assistirem silenciosos às poucas reuniões. Jovens recentemente glorificados pelo partido no poder passam rapidamente a conhecidos gestores da coisa pública ou da actividade privada, desde que tenham relações privilegiadas com o governo. Quadros e políticos com duplas e triplas reformas tornam-se uma vulgaridade. Consultores e escritórios de advogados não têm mãos a medir, mas os contratos feitos pelos governos com entidades privadas são consistentemente ruinosos para o erário público. Cinquenta mil milhões de euros em ruinosas parcerias públicas / privadas. As revisões dos preços contratados nas obras públicas tornaram-se normais e o tribunal de contas produz relatórios a seguir a relatórios denunciando o regabofe, perante a indiferença calculada de governantes e de autarcas. A crise também passa por aqui.
Conforme publicado, o orçamento do estado para 2011 traz uma transferência de 587 milhões de euros para a empresa ascendi do universo Mota Engil, o que foi questionado no site do Expresso pelo cronista Henrique Raposo. Quando o texto já circulava, a Ascendi e não o ministério das finanças, esclareceu que era um engano (como é possível um engano desta dimensão?) e o valor certo seriam uns escassos 150 milhões. A seguir o Sr. Jorge Coelho, Presidente da Mota Engil, escreveu uma carta a Henrique Raposo exigindo que ele se retratasse, o que só pode ser considerado humor negro ou uma forma suave de pressão ao uso da liberdade de denunciar actos duvidosos, ou impróprios, dos governos. Carta onde Jorge Coelho também justifica:”servi a causa pública durante mais de 20 anos”. A falta de vergonha é porventura a maior crise que se vive em Portugal.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Crónicas sobre o futuro

É esta a crise em Portugal - primeira Parte
Andam pelas ruas das cidades de mão estendida, envergonhados, receosos de encontrar alguém conhecido da sua outra existência. São os novos pedintes, atraiçoados pelo Estado e pela vida, velhos e velhas da classe média com bom aspecto exterior, aterrados ao ver desaparecer rapidamente o pequeno pecúlio amealhado ao longo de muitos anos de trabalho, ou recebido de uma pequena herança. Passam horas a tentar descobrir algumas novas formas de ganhar qualquer coisa honestamente, como sempre quiseram. Para eles recorrer á caridade é o último passo, a maior vergonha. Por vezes recorrem a truques para disfarçar a indigência: “Meu senhor, perdi a carteira e não tenho dinheiro para regressar à minha terra”. Algumas destas velhas senhoras recordam-me a minha mãe e puxo pela pequena nota que as faz agradecer com lágrimas nos olhos e me faz desviar os meus. Também é isto, a crise.
Do outro lado, na rua em frente, há um centro comercial com gente que se acotovela para comprar o vestido ou o telemóvel de que não precisa. Há muitos jovens em restaurantes caros, muitos Porches, ferraris, Jaguares e Mercedes, sem que se perceba bem de que forma são pagos, talvez por um sucateiro. Os maiores e melhores andares são vendidos rapidamente. As revistas mostram o que pensam e desejam as mulheres na moda e os velhos senhores de carteiras aparentemente recheadas. Os bancos oferecem dinheiro numa hora ou pelo telefone. Casas, ou palácios, podem ser comprados para pagar em quarenta anos. Os aviões para locais exóticos, ou simplesmente para qualquer lugar, vão cheios. Abrem novas lojas de produtos de marcas luxuosas vendidas a preços dificilmente compreensíveis para o comum dos mortais. Um único especulador que mal sabe falar amealhou, em trinta anos consumidos a obter licenças camarárias, tanto dinheiro que um banco vive com medo de que ele o leve para outras paragens. Também é isto a crise que se vive em Portugal.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

A vingança da Barata

Foi isto o que se passou algures no Egipto, terra onde foram construídos esses prodígios absolutos que são as pirâmides e a esfinge, obviamente que tudo isso foi há muito, muito tempo, uma dona de casa encontra uma barata a passear-se pelo apartamento. Depois de algumas horas de luta e de gritos, a senhora consegue atirar o insecto para dentro da sanita. Puxa o autoclismo. Mas ela quer assegurar-se que a barata está mesmo morta e que, apesar de ter levado com litradas de agua em cima, não voltará a nadar pelo sistema de canalizações, sedenta de vingança, e àquela casa de banho. Então a senhora pega numa lata de um poderoso insecticida e esguicha uma boa dose do mortífero produto para dentro da sanita.
Longe de imaginar toda esta saga, o marido da senhora chega a casa após mais um dia de trabalho. Tal como muitos homens, a celebração do fim de mais uma jornada é feita, por este senhor, da maneira mais libertadora possível, ele tem como objectivo sentar-se na sanita com o jornal do dia e assim exorcizar não apenas todos os aborrecimentos das horas de expediente, mas também o próprio almoço.
O senhor senta-se no trono de porcelana, começa a ler o jornal, e decide fumar um cigarro. Ora, toda a gente sabe que fumar faz mal. Sobretudo e isto, infelizmente, não vem referido no maços de tabaco, quando se está sentado numa sanita onde, minutos onde, foi espargida uma generosa dose de insecticida. Quando este senhor deitou o cigarro para dentro da pia, uma reacção explosiva aconteceu, e o grito de cor, provocado pelo encontro entre chamas súbitas e partes privadas, foi ouvido a quilómetros de distância.
A dedicada esposa e combatente anti-barata liga para o equivalente egípcio do 112 e daí a pouco tempo surgem enfermeiros com uma maca. Quando os dois enfermeiros estão a transportar o dorido senhor pela escada do prédio, não conseguem resistir ao impacto da história que provocou o acidente. Começam ambos a rir, ao ponto de não conseguirem equilibrar a maca que transporta a vítima. Tudo cai pela escada abaixo, um dos enfermeiros, a maca, o homem que há cerca de maia hora e sem saber como queimara boa parte dos seus pêlos posteriores e que agora tinha ainda que lidar com variadíssimas nódoas negras.
Longe dali, o riso sinistro de uma barata encharcada fazia-se ouvir…
Vingança da barata.