quinta-feira, dezembro 01, 2011


A olhar a minha rua…

Daqui, onde estou, consigo ver o mundo.
Não o mundo todo! Isso não! Seria até ridículo acreditar que sim.

Vejo apenas o meu mundo.
A minha rua.
Observo os que me rodeiam e usufruo do que me mostram.

Sob o sol quente, que me queima aos poucos, e num franzir de olhos, avisto lá ao fundo a minha rua, no quebrar da curva, os meninos e meninas, dos quais a Tatiana também faz arte a patinhar na água da fonte, aproveitando avidamente os intervalos das aulas. Consigo ouvir as suas gargalhadas sãs, em risadas soltas e frescas, de uma infância que corre ferozmente.

Subitamente atraído pelo lençol branco estendido no varal do quintal da vizinha reparo na menina, quase mulher, sentada feliz, no pátio do anexo onde vive como princesa única de seus pais.

Está a dias de entrar na faculdade, sem nunca ter chumbado
e sem disciplinas deixadas para trás ou repetidas, como apregoa, orgulhosa, a sua mãe, numa alegria incontrolável que exprime a cada pessoa com quem se cruza. Sinto um nervoso solidário, com aquela menina perfeita, sabe o muito que esperam dela, numa exigência que compreende e assume, mas que, ainda, não sabe ser capaz de cumprir.

Um ruído castigador irrompe por este início de tarde sossegado. O rapazote do lado, nos seus espigados dez anitos acelera a sua motorizada miniatura, e com motor de motosserra (digo eu), prenda da mãe, no último aniversário. O prazer que emana do seu rostinho faz lembrar o pai falecido há três anos, e um apaixonado pela duas rodas.

Daqui a pouco a avó lamentar-se-á, no portão, dizendo vezes sem conta que o pequenino lhe acaba com o descanso.

Do meu lado da rua, a Sra. Maria sentada na sombra da sua varanda acena-me cúmplice e reservada. Retribuo o cumprimento, enquanto, mais uma vez, me delicio aspirando os odores do seu quintal. Ali existe uma profusão de cores, cheiros e movimentos que me inebriam a alma e os sentidos. Num dia são as maças, noutro é o loureiro, noutro ainda são as laranjas, e mais tarde no ano, o tempo ajudando, serão os morangos. Dádiva duma natureza generosa que adora partilhar.

Pouso a cabeça quente, e no início da rua as videiras cheias de uvas, cansadas à espera da vindima do próximo Sábado, exalam um cheiro embriagante a fruta doce e madura.

Ali, mesmo ao lado, anda o José a bulir, o sinaleiro como lhe chamam, homem já entrado nos
entas, quase careca, que a vida bem cedo deixou dependente, não sabendo muito bem quem é, o que faz e quem o rodeia. Costumo dizer que vai ser menino para sempre, pois foi nesse dia que a sua alma desistiu de crescer.

A sua mãe, viúva amarga, num vestir negro constante, parada junto ao tanque de rega vigia-o e a quem passa também.

Aqui, mesmo ao lado, é a casa do Lourenço e da Ludovina, casados, já lá vão vinte e cinco anos, sem filhos, primeiro porque não quiseram, depois porque não puderam. Têm uma cadela, a
Jolie, que lhes assegura, de forma segura e eficaz, a propriedade e seus bens, pois ninguém se atreve a parar para admirar a nomeada beleza desta
Dobermann negra e feroz.

Tirando o Sr. Francisco Marques, pai do Carlos Marques e sogro da Maria Madalena, que enfrenta a cachorra, dando-lhe umas
muletadas enquanto abre o portão.

- Olá rapaz!
Cumprimenta-me, amparado pelas muletas na sua velhice já longa.
Lembro-me dele, como de mim, desde que me sinto como gente. O conforto que isso me proporciona é tão grande como o prazer que tenho quando ao Sábado à tarde visito a sua casa, e encontro a Sra. Albina da Conceição, sua esposa, e rolos na cabeça e rede cor-de-rosa a segurar os cabelos já finos e fracos, num gesto que recordo desde menino de colo.

- Olá Sr. Francisco, não deveria estar a descansar? Pergunto para arreliar, sei que nem me vai responder, enquanto se dirige ao galinheiro, onde durante a tarde conversará com aquelas que alimenta todos os dias e que sem ele não existiriam, na voragem dos dias que correm céleres.

Atrás de mim, enquanto acelero o carro, os portões fecham-se e a minha rua fica para trás.
- É uma rua simples, onde salta a vista o exterior branco das casas pintadas de forma quase igual, com rodapé ora a amarelo, ora azul, os telhados a vermelho por igual, a arquitectura civil é simples, talvez lhe possa chamar moderna, quando olho em frente, vejo o jardim-de-infância e um pouco mais ao lado o posto médico, sobre o lado direito da rua a escola onde anda a Tatiana, EB2,3, rua com muito movimento, principalmente de manhã, e ao final da tarde, com a entrada e saída dos miúdos da escola, e os carros dos pais, que os vêm trazer e buscar, mas o que mais gosto é de ouvir o cantar dos passarinhos, esse é intemporal, e também fazem parte desta rua ou talvez do mundo, que eu procuro olhar todos os dias, sempre de forma diferente.

É muito agradável ter uma rua que nos diga coisas, é bom ser livre, mas pertencer, e onde pertencemos? De onde somos? Somos de onde somos felizes.

domingo, fevereiro 27, 2011

Estoirou! – Segunda parte

O sapo é a imagem dum Estado Partido que inventou mais de mil institutos e fundações para encaixar os seus “boys” de elite que acumulam pensões, reformas e salários milionários, e duas mil empresas municipais, onde se encaixam os boys secundários, para tarefas que competiam às vereações eleitas, um Estado partido que paga aos gestores mais do que pagam os estados europeus e americanos. Vencimentos auto-atribuídos.. li num jornal que um agente da Fundação Guimarães capital da Cultura, sem especialidade nenhuma e sem curriculum académico ou outro, ganha 12.000 euros mensais, quase duas vezes mais do que o Chefe de Estado. O sapo representa os dois ou três partidos do poder que são autênticos coios de especialistas em corrupção e em fraude, e uma democracia concebida em função da vocação para a pantominice de alguns, por um lado, e da fragilidade intelectual do povo, por outro. É um Estado cuja justiça, segundo as estatísticas europeias, é a que tem o maior numero de procuradores, de juízes e advogados, e os mais bem pagos, mas que, simultaneamente, é a mais lenta, o que é que fazem esses magistrados nas suas alfurjas? E, ainda por cima, uma justiça que só condena os fracos e “arquiva” os políticos e os poderosos, a típica “justiça de classe”.
O sapo é a imagem dum Zé Povinho, palerma, que promete reeleger os governantes que lhe aumentam os impostos, lhe retiram parte do salário adquirido ou o subsidio de desemprego, os medicamentos e o abono familiar, um casal com 700 euros mensais já é considerado “rico”! este povinho fica sem o abono dos filhos mas sentir-se-á feliz a imaginar-se “rico”? O certo é que promete votar nos mesmos. Cúmplice.
O sapo representa um país que incha… mas fiado, a crédito. Engole sapos vivos. O dinheiro que os bancos portugueses emprestam para casas, automóveis, submarinos, tanques de guerra, auto-estradas, e ás empresas, é pedido emprestado por esses bancos aos bancos estrangeiros…Eh pá, ganda sapo! È a isso que leva a formação académica em Economia e gestão?
O batráquio da fabula simboliza uma sociedade descerebrada que inventou em círculo fechado os modelos por que se rege e gasta mais do que produz. O sapo estoirou! Os cangalheiros internacionais das falências vão fechar.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Estoirou !! - Primeira parte.

Não sei se conhecem a fábula do sapo e do boi: Um sapo viu um boi no prado e pensou: “hei-de ser como ele” Então, pôs-se a chupar o ar e inchou, inchou, até que estoirou.
O sapo é uma metáfora da estupidez humana, da mania das grandezas e da ganância. Há muita gente e, até, nações inteiras que medem o bem-estar pelas dimensões dos edifícios, pelos quilómetros de auto-estradas, pelo custo dos carros a atafulhar as ruas, pela quantidade de telemóveis, pelos golos metidos nas balizas, pelo uso do facebook, pela tralha dos hipers, pelos recordes do guiness e, sobretudo, pelo número dos cartões de crédito nas carteiras de bolso. Estupidez e alienação sempre existiram. Mas há culturas mais propensas que outras para a sua propagação. Essas são como o sapo na fabula; face ao pragmatismo e à inteligência das culturas vizinhas, estoiram.
O sapo da fabula simboliza uma nação acabada de sair do manejo da enxada e da mesquinhez da aldeia, que elege os políticos porque são “bonitos” ou “falam bem”, os que mais prometem, mesmo que não haja dinheiro nem condições para as fazer cumprir. Os quais constroem piscinas e gimnodesportivos em freguesias com mil habitantes, que abrem estradas e mais estradas nos terrenos agrícolas para servir luxuosas moradias isoladas construídas a crédito, que prometem TGVs e mais pontes as mais longas do mundo, umas ao lado das outras, e mais auto-estradas que atingem o recorde europeu por habitante, que constroem a maior rede de estádios de futebol para um só campeonato e que, depois, ficam sem uso montados em plenos tecidos urbanos, que abrem rotundas em cada cruzamento de ruas há anos atrás, a mania eram os semáforos, agora são as rotundas, que constroem de raiz museus, bibliotecas e salões municipais que ninguém frequenta só para ficar no curriculum dos eleitos.
Uma nação rural e marítima que abandonou a agricultura e a pesca e passou a importar quase tudo o que come.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Redacção da Vaca

O pássaro de que vos vou falar é o mocho. O mocho não vê nada de dia, e à noite é mais cego que uma toupeira. Não sei grande coisa do mocho, por isso vou continuar com outro animal que vou escolher. “A Vaca”
A vaca é um mamífero. A Vaca tem seis lados: o da direita, o da esquerda, ode cima, o de baixo, o de trás, que tem um rabo, o qual tem um pincel pendurado.
Com este pincel espantam-se as moscas para que não caiam no leite. A cabeça serve para que lhe saiam cornos e também porque a boca tem de estar nalgum lado.
Os cornos são para a vaca combater com eles. Pela parte de baixo tem leite, está equipada para que se possa ordenhar. Quando se ordenha, o leite vem e não para nunca. Como é que se desenrasca, a vaca? Nunca compreendi, mas o leite sai cada vez com mais abundância.
O marido da vaca é o boi. O boi não é mamífero. A vaca não come muito, mas o que como, come duas vezes, ou seja, já tem bastante. Quando tem fome, muge, quando não diz nada, é porque está cheia de erva por dentro. As suas patas chegam ao chão. A vaca tem o olfacto muito desenvolvido, pelo que se pode cheirá-la desde muito longe.
Foi exactamente assim desta maneira que o caso chegou, como uma redacção escrita por uma mente algo.. à deriva, digamos assim.

O Nosso Futuro

O nosso futuro depende do futuro do mundo e a minha visão do mundo divide-se entre a decadência e aquilo que os homens poderão fazer para a evitar.
As pessoas ainda não têm a noção do que nos espera e parece-me que é preciso cairmos na decadência e no caos para que depois a humanidade renasça.
Tudo isto tem a ver com as questões ambientais e com o esgotamento das reservas do planeta que, como está mais que provado, acaba por provocar enormes desequilíbrios sociais e humanos.
Portanto, enquanto a humanidade não perceber isto, o nosso futuro será uma grande incógnita.

sábado, janeiro 29, 2011

eu aqui...: Crónicas sobre o futuro

eu aqui...: Crónicas sobre o futuro

eu aqui...: A vingança da Barata

eu aqui...: A vingança da Barata

É esta a crise em Portugal – Segunda parte

A divida de Portugal que era em 1996 de 8,3 mil milhões de euros atingiu 161 mil milhões em 2008 e a despesa pública de 15,7% do PIB em 1960 é de 49,8% do PIB em 2009. Neste tempo as empresas do regime engordaram a olhos vistos, os conselhos de administração cresceram, cinco, dez, quinze ilustres doutores pagos na casa dos milhões para assistirem silenciosos às poucas reuniões. Jovens recentemente glorificados pelo partido no poder passam rapidamente a conhecidos gestores da coisa pública ou da actividade privada, desde que tenham relações privilegiadas com o governo. Quadros e políticos com duplas e triplas reformas tornam-se uma vulgaridade. Consultores e escritórios de advogados não têm mãos a medir, mas os contratos feitos pelos governos com entidades privadas são consistentemente ruinosos para o erário público. Cinquenta mil milhões de euros em ruinosas parcerias públicas / privadas. As revisões dos preços contratados nas obras públicas tornaram-se normais e o tribunal de contas produz relatórios a seguir a relatórios denunciando o regabofe, perante a indiferença calculada de governantes e de autarcas. A crise também passa por aqui.
Conforme publicado, o orçamento do estado para 2011 traz uma transferência de 587 milhões de euros para a empresa ascendi do universo Mota Engil, o que foi questionado no site do Expresso pelo cronista Henrique Raposo. Quando o texto já circulava, a Ascendi e não o ministério das finanças, esclareceu que era um engano (como é possível um engano desta dimensão?) e o valor certo seriam uns escassos 150 milhões. A seguir o Sr. Jorge Coelho, Presidente da Mota Engil, escreveu uma carta a Henrique Raposo exigindo que ele se retratasse, o que só pode ser considerado humor negro ou uma forma suave de pressão ao uso da liberdade de denunciar actos duvidosos, ou impróprios, dos governos. Carta onde Jorge Coelho também justifica:”servi a causa pública durante mais de 20 anos”. A falta de vergonha é porventura a maior crise que se vive em Portugal.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Crónicas sobre o futuro

É esta a crise em Portugal - primeira Parte
Andam pelas ruas das cidades de mão estendida, envergonhados, receosos de encontrar alguém conhecido da sua outra existência. São os novos pedintes, atraiçoados pelo Estado e pela vida, velhos e velhas da classe média com bom aspecto exterior, aterrados ao ver desaparecer rapidamente o pequeno pecúlio amealhado ao longo de muitos anos de trabalho, ou recebido de uma pequena herança. Passam horas a tentar descobrir algumas novas formas de ganhar qualquer coisa honestamente, como sempre quiseram. Para eles recorrer á caridade é o último passo, a maior vergonha. Por vezes recorrem a truques para disfarçar a indigência: “Meu senhor, perdi a carteira e não tenho dinheiro para regressar à minha terra”. Algumas destas velhas senhoras recordam-me a minha mãe e puxo pela pequena nota que as faz agradecer com lágrimas nos olhos e me faz desviar os meus. Também é isto, a crise.
Do outro lado, na rua em frente, há um centro comercial com gente que se acotovela para comprar o vestido ou o telemóvel de que não precisa. Há muitos jovens em restaurantes caros, muitos Porches, ferraris, Jaguares e Mercedes, sem que se perceba bem de que forma são pagos, talvez por um sucateiro. Os maiores e melhores andares são vendidos rapidamente. As revistas mostram o que pensam e desejam as mulheres na moda e os velhos senhores de carteiras aparentemente recheadas. Os bancos oferecem dinheiro numa hora ou pelo telefone. Casas, ou palácios, podem ser comprados para pagar em quarenta anos. Os aviões para locais exóticos, ou simplesmente para qualquer lugar, vão cheios. Abrem novas lojas de produtos de marcas luxuosas vendidas a preços dificilmente compreensíveis para o comum dos mortais. Um único especulador que mal sabe falar amealhou, em trinta anos consumidos a obter licenças camarárias, tanto dinheiro que um banco vive com medo de que ele o leve para outras paragens. Também é isto a crise que se vive em Portugal.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

A vingança da Barata

Foi isto o que se passou algures no Egipto, terra onde foram construídos esses prodígios absolutos que são as pirâmides e a esfinge, obviamente que tudo isso foi há muito, muito tempo, uma dona de casa encontra uma barata a passear-se pelo apartamento. Depois de algumas horas de luta e de gritos, a senhora consegue atirar o insecto para dentro da sanita. Puxa o autoclismo. Mas ela quer assegurar-se que a barata está mesmo morta e que, apesar de ter levado com litradas de agua em cima, não voltará a nadar pelo sistema de canalizações, sedenta de vingança, e àquela casa de banho. Então a senhora pega numa lata de um poderoso insecticida e esguicha uma boa dose do mortífero produto para dentro da sanita.
Longe de imaginar toda esta saga, o marido da senhora chega a casa após mais um dia de trabalho. Tal como muitos homens, a celebração do fim de mais uma jornada é feita, por este senhor, da maneira mais libertadora possível, ele tem como objectivo sentar-se na sanita com o jornal do dia e assim exorcizar não apenas todos os aborrecimentos das horas de expediente, mas também o próprio almoço.
O senhor senta-se no trono de porcelana, começa a ler o jornal, e decide fumar um cigarro. Ora, toda a gente sabe que fumar faz mal. Sobretudo e isto, infelizmente, não vem referido no maços de tabaco, quando se está sentado numa sanita onde, minutos onde, foi espargida uma generosa dose de insecticida. Quando este senhor deitou o cigarro para dentro da pia, uma reacção explosiva aconteceu, e o grito de cor, provocado pelo encontro entre chamas súbitas e partes privadas, foi ouvido a quilómetros de distância.
A dedicada esposa e combatente anti-barata liga para o equivalente egípcio do 112 e daí a pouco tempo surgem enfermeiros com uma maca. Quando os dois enfermeiros estão a transportar o dorido senhor pela escada do prédio, não conseguem resistir ao impacto da história que provocou o acidente. Começam ambos a rir, ao ponto de não conseguirem equilibrar a maca que transporta a vítima. Tudo cai pela escada abaixo, um dos enfermeiros, a maca, o homem que há cerca de maia hora e sem saber como queimara boa parte dos seus pêlos posteriores e que agora tinha ainda que lidar com variadíssimas nódoas negras.
Longe dali, o riso sinistro de uma barata encharcada fazia-se ouvir…
Vingança da barata.